Feministas e lésbicas: diferenças irreconciliáveis?

Bom, como estou finalmente vivendo meu merecido periodo de ócio, tive a idéia de movimentar um pouco mais este fórum aqui e que melhor forma de fazê-lo do que levantando polêmica
Faz alguns anos li uma matéria publicada num portal gay que falava sobre como as feministas não consideram a lésbica mulher. Posto aqui a matéria em questão para que vocês dêem a sua opinião sobre ela e sobre o tema no geral.
Abraços!



Feministas não consideram lésbicas mulheres
05/02/04 Gay Brasil.com - Kitty

Esta afirmação é na verdade uma provocação. Provocação para reflexão.

Além e na raiz da provocação está uma questão a ser esclarecida. Pretender avaliações dos “resultados” de um movimento e luta de 30 anos sem uma base científica qualificada, seria arrogância no mínimo.

Ainda assim, na qualidade de lésbica, aos 49 anos, tendo tentado participar de grupos feministas da década de 70 e de um ou outro grupo homossexual da mesma época, gostaria de colocar uma questão como uma contribuição à reflexão para feministas e lésbicas.

As feministas (e a generalização é proposital) não vêem lésbicas como mulheres porque as feministas reduzem a discussão e a luta a “contra o homem”, tendo o “homem” como o opressor icônico.

Uma mulher só é mulher se diante de um pênis? Isso é acreditar no bom e velho argumento cafageste “te fazer mulher”, o que só um homem e a penetração peniana ou como tal poderia.

Se nós, lésbicas, não temos relações com homens, feministas não nos vêem como mulheres pois não estaríamos dentro de suas esferas de opressão, em uma compreensão sexista não sofreríamos a mesma opressão. Contraditoriamente, por outro lado, se adotamos “imagens” e “posturas” masculinas como tal estereriotipadas, aprovamos o objeto contra o qual se debatem.

A decorrência desse raciocínio é que só são mulheres aquelas que se coloquem “diante” do homem. Aí está a raiz da provocação.

Ou seja, as feministas dependem do “ser contra”, ainda. Entendendo as conquistas como patamares a serem galgados, ganhos e conquistados, parece ser o momento do feminismo, para atingir no mínimo sua “adolescência”, poder prescindir do “ser contra” o homem para “ser a favor” da mulher.

Enquanto mulheres dependerem do “modelo” masculino “contra” o qual devam lutar, não conquistarão o avanço fundamental da maturidade e liberdade de prescindir do modelo alheio a si mesmas. Há que se buscar a identidade feminina “per si” e não apenas pela contraposição a identidade masculina.

Por um lado, feministas se sentem “esvaziadas” diante de lésbicas, pois prescindimos do “masculino”. Por outro lado, feministas rejeitam a “afirmação” do masculino expressa no modelo ‘sapatão’ e reforçado pelo modelo “femme”. Essa reflexão caminhará par e passo, conjunta, no feminismo e no lesbianismo. Afinal, somos mulheres.

retirado de www.gaybrasil.com.br

Agora a minha opinião sobre o assunto
Eu acho esse texto muito polêmico e mal fundamentado na realidade atual. Eu sei que não sou a mais indicada para falar sobre feminismo até porque nunca fiz parte de um movimento feminista, mas conheço algumas mulheres que sim fazem parte e realmente nunca as ouvi falar de "luta contra o homem" nem nada parecido, pelo contrário, eu acredito que as feministas lutam pela igualdade entre os sexos e não pelo extermínio do sexo masculino nem pela total erradicação do homem nem a supremacia da mulher, etc, etc.
Eu acredito que as feministas querem a igualdade, procuram ocupar o mesmo espaço na sociedade do que os homens e não substituí-los. Pode até ser que no começo, lá pelos anos 20-50, o movimento tenha sido assim, radical, mas hoje em dia a feminista luta pelo direito a trabalhar ganhar o mesmo salário que um homem; luta pelo direito de criar os filhos em parceria com o pai... em fim, as feministas lutam pelos seus direitos como mulheres, não contra os homens nem contra ninguém!
E outra, de novo a escritora de esse texto demonstra o atrasada que é a sua visão quando fala em “femme” e “sapatão”, pois, salvo raríssimas exceções, as lésbicas hoje em dia não se prendem a esse tipo de estereótipos, nenhuma das lésbicas que conheço usa roupas masculinas, cospe na rua nem “coça o saco” nem muito menos anda por ai brincando de “esposinha” , nem fica em casa o dia todo fazendo biscoitos e fazendo jantarzinho para quando a esposa chegar do trabalho.
Pela (pouca) experiência que tenho no meio, a lésbica moderna é uma mulher como qualquer outra, algumas gostam mais de maquiagem, outras menos, algumas preferem saias, outras jeans, algumas trabalham fora, outra não, mas no fundo o que une todas elas e o fato de ser mulheres que amam mulheres.

A questão não é o ódio ao homem ou o seu extermínio. Se trata da luta contra a submissão da mulher ao homem e à arcaia sociedade patriarcal. O papel da mulher no passado era simplesmente casar, ter filhos, ser boa mãe, boa esposa e dona de casa. Por que isso era imposto. Com bonecas, casinhas e panelinhas. O marido era escolhido pela familia, muitas vezes por interesse econômico. A luta feminista, a meu ver, prega a independência da mulher, seu livre arbitrio, seus direitos e principalmente igualdade perante a sociedade. A mulher quer ser valorizada e não subestimada.